O livro Traços humanos – seu viver cotidiano nasceu dos artigos que publico, semanalmente, em três dos principais jornais deste Estado, O Imparcial, o Jornal Pequeno e Agora Santa Inês, para os quais venho colaborando há alguns anos.
O mote principal que o inspirou foi verificar que, em geral, não tratamos francamente sobre muitos comportamentos que adotamos em nosso comportar cotidiano, em casa, no trabalho, nas ruas, nas relações sociais, no lazer ou mesmo quando sozinhos. Esse fato me chamou a atenção e por isso mesmo passei a escrever sobre eles, de forma simples, objetiva e resumida, no formato de artigo de jornal, para que as pessoas se dessem conta deles e passassem a verificar que eles existem e fazem parte de nosso dia a dia. Por isso mesmo, são importantes. Traços aqui são sentimentos, reações emocionais e afetivas, os quais se manifestam em condições especiais na vida de cada uma das pessoas.
Por exemplo, fala-se muito sobre a criminalidade social, mas tratamos muito pouco da violência em si mesma: sua natureza, como se desenvolve, suas formas de expressão, etc. Falamos muito dos amigos, tanto dos bons quanto dos maus, falamos da decepção que surge quando um amigo nos frustra, mas não tratamos sobre a amizade propriamente dita, etc.
Da mesma forma, fala-se do arrogante, do ciumento, do medroso, do indigno, mas não tratamos da arrogância, do medo, do ciúme e da indignidade. Foi justamente desse vazio ideativo e pragmático, sobre essas vivências cotidianas, que ousei tratar.
No livro, considero traços como um aspecto comportamental, ou caracterológico, ou vivenciais, próprios e peculiares a alguém ou de algumas coisas, os quais se expressam no seu comportamento.
Nós os notamos nas rotinas, na vida social, nas expressões artísticas, no exercício profissional, no esporte, enfim, em todas as dimensões em que nos manifestamos, e muitos desses traços comportamentais representam, na perspectiva existencial, aspectos relevantes, endógenos, que nascem das entranhas de nossa natureza e fazem parte de nosso repertório de respostas ou reações vivenciais, inatas ou aprendidas, dos indivíduos que aparecem em circunstâncias especiais no cotidiano de cada um.
Quem ainda não experimentou uma angústia ou uma tristeza profunda; não se lamentou por passar por uma crise, de qualquer tipo; não teve medo, às vezes intensos e avassaladores; ainda não cruzou com um arrogante, um cínico, um mau-caráter, um vaidoso, um corajoso ou um covarde? Ou ainda, quem não conheceu pessoas inseguras, indecisas, rancorosas, ansiosas ou mentirosas? Ou mesmo ingratas, invejosas e ciumentas?
Então, é disso que trato neste livro.
Reconheço, também, que cada um desses temas é altamente complexo e relevante na biologia, na psicologia, na sociologia, na antropologia, na psiquiatria e na vida de cada um de nós.
São aspectos comportamentais valiosíssimos, que expressam particularidades humanas essenciais e do seu meio social e cultural. São traços vivências específicos, que poderiam ser tratados com requinte literário, científico e/ou filosófico, como um vasto material para conhecermos melhor nossa natureza.
Para filósofos, historiadores, cientistas comportamentais, pesquisadores, sociólogos ou ainda por literatos e artistas, não faltaria material para seus trabalhos, ao tratar desses temas. No entanto, ao expô-los nesse formato jornalístico, pensei em fazer com que as pessoas se dessem conta dessas particularidades e passassem a se interessar mais por elas, a conhecer melhor suas reações e a perceber que essas vivências são comuns em seus repertórios existenciais, e assim torná-los mais simples de se compreender.
Um outro aspecto, que me parece relevante, é que, como psiquiatra, e com a experiência acumulada nesses quarenta anos de prática médica, lidando diuturnamente com diferentes formas de comportamentos humanos, sadios ou enfermos, pude verificar que tais traços comportamentais, já passaram por mim, já convivi com muitos deles, lado a lado, frente a frente. Já os vi no rosto de adultos, crianças, adolescentes ou pessoas idosas. E em todas elas há um padrão de respostas comuns, demonstrando, enfaticamente, que tais vivências são próprias da natureza humana.
A presença desses traços, nos diferentes cenários humanos, confere a cada um deles uma marca própria, registrada e universal nas diferentes formas de nos comportarmos. O ambiente,
o meio social e a cultura emprestam a esses traços a individualidade necessária para sua expressão e significado, sem distorcer
a sua natureza, sentido e significado maiores.
Recomendo que leiam, reflitam, pensem. Coloquem-se nessas páginas e nessas linhas. Se se encontrarem em algumas delas, foi mera casualidade, mas prossigam e vão em frente.
Só entendendo melhor o que se passa conosco é que conseguimos avançar.
Boa leitura.
P161c
Palhano, Ruy.
Traços Humanos: seu viver cotidiano / Ruy Palhano.
São Luís, 2018.
144 p.
Crônicas sobre diferentes temas, publicadas nos jornais: O Imparcial e Jornal Pequeno.
ISBN 978-85-920281-6-9
1. Crônicas – Coletânea. I. Título.
CDD B869.8
CDU 82-94
R$50,00